Porque não é simplesmente se expor ao sol; entenda o motivo da sua vitamina D estar baixa
ARTIGO
Por Leo Simões *
A vitamina D, ou hormônio D como dito por muitos, é essencial para a realização de mais de 85 funções do organismo. Além disso, é responsável pela ativação de mais de 2.000 genes; ou seja, se botarmos na ponta do lápis, 10% dos nossos genes estão metabolicamente ligados à ela, sendo alguns destes genes relacionados à regulação de antioxidante do corpo, controle da respiração mitocondrial e redução da produção de citocinas pró-inflamatórias (inflamação do corpo).
A vitamina D é tão importante que existem receptores para ela em todas as células do corpo humano. No hipocampo e no sistema nervoso central do organismo, por exemplo, ela ativa algumas enzimas cerebrais e o fluído cerebrospinal, que estão ligados diretamente à síntese de neurotransmissores; também é importante para a proteção dos neurônios, desempenho cognitivo mental e redução das inflamações.
A vitamina D participa da regulação da serotonina e dopamina; consequentemente, tem impacto direto e indireto no humor, sono, apetite e saciedade – fatores importantes para a regulação do peso, depressão, ansiedade e diversas outras doenças neurológicas. Também está relacionada com diversas doenças da síndrome metabólica como diabetes, osteoporose, osteopenia e hipertensão.
Como podem ver, ela é crucial para diversas funções do corpo e a sua deficiência pode resultar em alguns problemas para a saúde. Mas, então, por que é tão comum as pessoas possuírem a deficiência desta vitamina mesmo se expondo ao sol?
São dois motivos:
– O primeiro é devido à utilização de protetores solares, já que os mesmos inibem a captação dos raios UVB e, consequentemente, a síntese de vitamina D.
– O segundo motivo é que precisamos de dois nutrientes na dieta para possuir bons níveis de vitamina D. Um desses nutrientes (demonizado por muitos) é o colesterol, pois a enzima 7-dehidrocolesterol redutase é a enzima que faz a captação do raios UVB para transportar até no fígado, onde recebe a primeira hidroxilação, e como nosso corpo produz algo em torno de 70%-80% do colesterol diário, o restante tem que ser proveniente da dieta – logo, devemos diariamente consumir peixes oleosos, carnes com gorduras, ovos inteiros e afins.
O segundo nutriente que precisamos para manter bons níveis de vitamina D é o magnésio; no fígado, onde ocorre a primeira hidroxilação, existe a necessidade de magnésio, outro mineral que a larga maioria das pessoas tem deficiência, seja por alguns componentes da dieta, ou pela dieta em si, já que o solo brasileiro é pobre neste mineral.
Enfim, forma-se a 25(OH)D ou calcidiol 25(OH)D – que representa a reserva de vitamina D no organismo. Uma segunda reação acontecerá no rim, onde necessitará de magnésio também, a 25(OH)D recebe mais uma hidroxila para ser convertida em sua forma ativa: a 1,25(OH)2D ou calcitriol, ou ser na forma inativa 24,25(OH)2D.
Dieta e absorção de magnésio
A absorção de magnésio – seja o presente em alimentos como o magnésio suplementado – pode ser prejudicada por alguns fatores da dieta. O consumo de ácido fosfórico (presente em refrigerantes, por exemplo) dificulta a utilização do magnésio pelo organismo. Já o consumo de açúcar e farináceos causando hiperglicemia resulta em maior excreção de magnésio pela urina, depleção de vitamina B6 (responsável pela absorção de magnésio) e, em alguns casos, quando a pessoa já possui uma resistência à insulina, isso atrapalhará a entrada de magnésio para dentro das células.
Só para ter uma ideia, são necessárias 56 moléculas de magnésio para metabolizar uma única molécula de frutose. E não apenas isso: o ácido fítico, presente principalmente no trigo, inibe a absorção de magnésio. Para fechar com “chave de ouro”, com o aumento do estresse oxidativo (devido ao consumo de açúcar, farinhas, óleos vegetais ultraprocessados e tabagismo) necessitamos do uso de enzimas antioxidantes que dependem de magnésio, o que aumenta a necessidade diária deste mineral.
Em resumo, muitas vezes o que pode estar faltando não é se expor mais ao sol ou suplementar vitamina D ou até mesmo magnésio, e sim retirar o que está prejudicando a absorção e utilização deles.
* Leo Simões é estudante de Nutrição em Blumenau (SC), ex-atleta de Futebol do Flamengo e pesquisador incansável da Saúde Baseada em Evidências.
Referências:
https://bmcmedicine.biomedcentral.com/articles/10.1186/1741-7015-11-187
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